sábado, julho 19, 2008

Via Olhando o Céu: Céu Rendado - l

Céu Ren da do

Foto de Luísa Nogueira
Após semanas de uma inércia dolorida, estou acordando...

Minha filha, depois de tirar algumas fotos com sua amiga, diz: "Toma, mãe, a máquina é sua." Respondi: "Não, você guarda!" Mas, ela já estava longe. Com o aparelho nas mãos, pensei "passar o tempo" tirando fotos de flores - tinha muitas à minha volta.

Era o início da tarde de ontem. Notei que o céu estava de um azul só, sem nuances. Nuvens? Quase nenhuma. Observei isso enquanto caminhava sob a copa de uma grande árvore: um angico. O angico tem folhas alongadas, pequenas e finas. Bem delicadas. As pontas de seus galhos parecem plumas flutuando. E, com aquele céu como fundo ficavam deslumbrantes.

Olhando para o céu, cliquei aquela paisagem de rendas verdes com fundo azul. Continuei debaixo de outras árvores, fotografando folhas de diferentes texturas, tipos e tamanhos. Cada uma com um tom de verde. O resultado: fotos de rendas verdes, às vezes 'ton sur ton', aplicadas em tecidos da cor do anil.

A tarde já caía quando selecionei, editei e postei algumas fotos neste blog.

Um simples gesto e um retornar de olhar. Um retornar para a vida, que segue embalando folhas e sonhos.


Foto de Luísa Nogueira
Angico - Árvore de médio a grande porte, da família das leguminosas, de folhas miúdas e frutos alongados do tipo vagem. Suas flores são minúsculas, brancas e agrupadas em cachos. A casca de seu tronco é medicinal, assim como suas folhas.

Foto de Luísa Nogueira

Foto de Luísa Nogueira

Foto de Luísa Nogueira

Foto de Luísa Nogueira

Foto de Luísa Nogueira

Foto de Luísa Nogueira

Foto de Luísa Nogueira

Foto de Luísa Nogueira   
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quarta-feira, junho 25, 2008

Via Vida: Lydia (7 de 7): O Sopro do Encontrar



Foto da "Série Lydia", do blog Multivias, em sete postagens de autoria de Luísa Nogueira
Lydia, o Sopro do Encontrar













Há um mês ela se foi.

Dois dias depois, querendo relatar o ocorrido, as palavras me faltaram. Escrevi "Blog em luto". Escolhi, na paleta de cores, a mais negra cor que encontrei. Pensei emoldurar o que escrevi para ficar como numa faixa, anunciando nossa dor. Naquele momento não sabia exatamente o que fazer. Minha cabeça ainda estava "flutuando", como fiquei desde que soube que ela havia nos deixado. Era mais ou menos doze horas da manhã, do dia 27 de maio, quando recebi o telefonema de meu irmão. Telefonei para meu marido, que estava em seu trabalho. Ele veio logo para pegarmos juntos a estrada que nos separa de uma cidade a outra.

Chegamos no final da tarde. A primeira pessoa da família que avistei foi minha querida irmã Betty. Estava na copa. Alguém lhe telefonava, tentando consolá-la. Desde o portão a vi. Passei pela sala cheia sem ver direito quem estava lá e, correndo até ela, nos abraçamos, deixando nossas lágrimas lavarem aquele instante de dor e de consolo mútuo. Não sei quanto tempo ficamos assim, aninhadas no ombro uma da outra.

O corpo de minha mãe não estava lá. Iria do hospital direto para a sala onde seria velado. "É o protocolo do hospital e os preparativos do pessoal encarregado de seu funeral", alguém me disse. Corri para o cemitério levando minha irmã. Muitas pessoas da família já estavam lá, esperando. Pouco depois entra, na sala principal, o caixão com minha mãe. Quando o abriram e a vi deitada, como se estivesse dormindo, não pude me controlar. Abraçando-a e apalpando seu rosto, minha dor queria saber o por quê de não sermos imortais. Por que perdemos quem amamos? Passei a noite ao seu lado, só saindo depois do enterro, no dia seguinte. Ela passou por muitas dores, mas Deus a poupou da dor de ver algum de seus filhos partir antes dela. Todos seus seis filhos estavam presentes em sua cerimônia final.

Como dizia no início, tentava escrever, tentava fazer algo, mas nem minha cabeça nem minhas mãos me ajudavam. Muito menos meus olhos molhados e embaralhados. Foi aí que senti Sua presença; com certeza, Deus estava ao meu lado. Parece que veio me ajudar nessa tarefa difícil. A cada estrela colocada em volta do que tinha escrito, minha mente ficava menos confusa. Comecei a ter respostas. Não duvidei mais de minhas convicções. Sim, somos imortais. Apenas nosso corpo fica para ser abraçado pela terra, fazendo com que sejamos também terra. Ele é uma moldura passageira para nossa alma. Sentindo que não estava só, escrevi:

soprodevidaLydiaLydiaLydiaLydialma

 
Continuei, já num tom mais claro que a faixa de estrelas:

"Ontem foi um dia triste. Triste e sem sol, não fossem as palavras de um dos pastores presentes no culto de despedida de minha mãe. Consolando a todos, familiares e amigos, disse: "A morte é o começo de uma nova Vida".
E assim consegui escrever ao menos algumas linhas.

Decidi, naquele momento, que escreveria durante o mês de junho sobre essa mulher forte, batalhadora e amiga. No oitavo dia após sua partida, comecei postando suas fotos: 1 de 7: Lydia em fotos. As outras partes vieram na corrente das lembranças: 2 de 7: Lydia, a irmã caçula; 3 de 7: Lydia e sua Carolina; 4 de 7: Lydia e suas receitas; 5 de 7: Lydia, um exemplo de vida; 6 de 7: Lydia em vídeo e esta última, 7 de 7: Lydia, o sopro do Encontrar.

Sei que quase nada contei sobre sua vida, mas foi a homenagem que pude fazer à minha mãe. Senti sua presença me orientando e aprovando.

Até logo, minha mãe querida, porque sei que nossas almas estarão lado a lado no sopro de meu Encontrar.

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Nota: Lydia em Vídeo não foi publicado neste blog. Foi distribuído apenas aos familiares que nos pediram uma cópia. 

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Via Vida: Lydia (6 de 7): Lydia em Vídeo








Lydia em Vídeo





25-06-08:
O vídeo que fiz virou um pequeno filme. Estou tabalhando em parceria com minha filha para diminuir seu tamanho. Caso isto afete seu conteúdo, iremos copiá-lo em DVD e distribuí-lo para meus irmãos. Em seu lugar será colocado um pequeno vídeo em ppt feito no Dia das Mães de 2005.

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terça-feira, junho 24, 2008

Via Vida: Lydia (5 de 7): Lydia, um exemplo de Vida







Lydia, um exemplo de vida

Em tudo que vivenciamos, com sofrimento ou não, há um propósito de e da vida. Mesmo nas horas mais difíceis, em que quase perdemos nossas forças, há um princípio de saber. São partículas minúsculas que ao longo dos dias e dos anos, já gotas, nos gotejam mais conhecimento, mais experiência, mais sabedoria na arte de viver.

Todos nós temos esse conta-gotas. Quase vazio, mais ou menos cheio ou repleto, transbordando.

A diferença de cada conta-gotas está no querer e no viver de cada um de nós; na escolha de vida da pessoa; no caminho que traçamos ou simplesmente seguimos; no roteiro seguido ou não por nosso barco; no olhar ou desviar de nossos olhos; na maneira de captar e de absorver as mensagens que nos chegam nos e-mails que Deus nos envia diariamente através de Seu computador chamado Vida.

O conta-gotas do vivenciar de minha mãe transbordava amor e sabedoria. Amor quando ficava ao lado dos mais fracos, incentivando-os; amor e sabedoria em sempre querer unir as pessoas; amor e sabedoria em não magoar seus entes queridos; amor no anular de si mesma em prol de filhos e netos; amor e sabedoria no viver diário. Poderia contar muitas e muitas histórias exemplificando tudo isso. Um dia, quem sabe...

Ela nunca levantou a mão para nenhum dos filhos. E olha que éramos bem difíceis, principalmente meus dois irmãos mais velhos. Isto de acordo com ela mesma. E também segundo nossas lembranças. Muitas vezes, em reuniões de família, um ou outro se lembra de alguma travessura de criança. Como esta em Pedro Afonso, em um mês de praia:

Uma vez meus dois irmãos, um com cinco anos e o outro com quatro, pegaram uma irmã* de apenas um ano e foram passear na praia do Rio Tocantins. A areia branca e fina "entra" no rio de águas claras e transparentes que, ao caminhar, vai ficando mais fundo. Sem falar nos bancos de areia que afundam ao serem pisados e na correnteza das águas. No início a pequena foi segurada pelas mãozinhas, no meio dos dois. Pouco a pouco, quando estava só com a cabeça de fora, o mais velho a colocou em seus ombros. E seguiram o passeio até seus pés não encontrarem mais o apoio da areia. Acho que só mesmo as inúmeras preces de minha mãe para nos salvar de situações como esta.

Quando as travessuras passavam dos limites, ela ameaçava:

-"Quando seu pai chegar vou contar tudo!"

Mas, escondida, sorria das 'palhaçadas e peraltices' do dia a dia de seus "pimpolhos".

Sempre nos deu muita liberdade e nos deixou ser crianças. Era uma leoa em relação à defesa e ao bem-estar dos filhos. Deixava faltar para ela, nunca para nós. Criou seus filhos com extremo amor.

Obrigada, minha mãe, pelo seu exemplo de vida, pelo seu conta-gotas sempre transbordando amor e carinho aos seus.

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* A irmã pequena era eu mesma...

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quarta-feira, junho 11, 2008

Via Vida: Lydia (4 de 7): Lydia e suas Receitas





Lydia e suas receitas



Minha mãe tinha uma mão boa para cozinhar. Seus temperos eram famosos. Quantas vezes a vi fazendo "complementações" para os aniversários de amigos. Eles lhe pediam para fazer um ou outro salgado e ela nunca dizia não, sempre os ajudava e se orgulhava disso.

Na época em que morávamos em Pedro Afonso, não existia padaria por lá, como na maioria das cidadezinhas do interior brasileiro daquela época. Os pães eram substituídos por bolos feitos por donas de casa chamadas de boleiras. Essas mulheres, geralmente casadas ou viúvas, sustentavam assim suas famílias. No forno e fogão trabalhavam de sol a sol, ou melhor, de sereno a sereno. Levantavam lá pelas quatro horas da madrugada para estarem com os bolos já prontos às seis horas. Era a partir desse horário que as pessoas iam comprar o acompanhamento do café com leite da manhã. Bolos de mandioca, bolos de farinha de trigo de diversos sabores, cuscus, tapioca e outras delícias. Tapioca era chamada por lá de beijú. O cardápio da maioria das famílias não variava muito. Chá? Ora, ora, estamos falando da classe média do interiorzão brasileiro do século passado. O café da manhã era esse: café com leite acompanhado com bolo ou cuscus ou mesmo beijú. Quando não feitos em casa, as 'massas' eram compradas das boleiras. Hoje olhando e fazendo um recorte daquela época admiramos ainda mais essas bravas e valentes mulheres. Tinham uma dupla jornada começada quando todos ainda dormiam. Ajudavam no orçamento familiar e trabalhavam em casa lavando, passando e cozinhando para o marido e os filhos. Sentiam-se felizes quando não havia as brigas rotineiras dos companheiros. Muitas enfrentavam maridos grosseiros e alcoólatras.

Se dependesse de nós essa pessoa quase nada ganharia. Era raro o dia que precisávamos de suas guloseimas. Minha mãe deixava sempre cheio nosso estoque de biscoitos - doces e salgados.

Ainda me lembro como hoje: havia uma mesa enoooorme em nossa copa. Pelo menos é assim que guardei em minha memória de criança de dois ou três anos. Toda semana essa mesa era coberta por uma toalha bem branquinha e... recheada de todo tipo de biscoitos, bolos e doces. Que ficavam ali, cobertos por uma outra toalha, esperando esfriar para serem armazenados em grandes latas.

Enquanto isso...bem, enquanto esfriavam, meus irmãos mais velhos, ter-ri-vel-men-te sapecas, ficavam 'espiando' em outra sala. Quando minha mãe ou sua ajudante davam as costas... dá para imaginar o que aprontavam, não é? O pior era quando me mandavam pegar os bolos. Sempre me colocavam em enrascadas. Quando minha mãe nos pegava, dizia:

-Agora não pode! Faz mal comer bolo quente!

Ela não sabia que o gostoso era comer quente e... escondido.

As receitas que editarei aqui são bizarras, mas representam bem o humor e o jeito de ser de minha mãe.


Duas receitas

Uma, Caça à moda indígena, que ela nos contava quando falava maravilhada sobre suas andanças pelas aldeias indígenas, quando era solteira. A segunda, preparava de vez em quando para nosso lanche da tarde, servida junto com uma gostosa xícara de café com leite.
  1. Caça à moda indígena
Esta receita é feita em um buraco... cavado na terra!

Ingredientes:
- Pedaços grandes de mandioca
- Caça (não me perguntem qual, por favor)
- Folhas de Bananeira
- Sal e temperos a gosto (não sei se os índios usavam; vou pesquisar)

Modo de Fazer:
- Cavar um buraco, reservando a terra ao lado.
- Forrar com folhas de bananeira.
- Ir alternando caça (já temperada?), mandioca e as folhas de bananeira, terminando com esta.
- Cobrir com a terra retirada.
- Fazer uma fogueira com lenha suficiente para se ter uma boa brasa.
- Deixar o assado 'cozinhando' toda a noite.
Parece que era uma receita de festa. Os índios faziam para receber seus visitantes mais queridos. Segundo minha mãe, é um prato muito saboroso.

++++++++++ ++++++++++

2. Orelha de Macaco

Não, não... Não se espantem! Caaalma! É apenas o nome. Nada a ver com nossos queridos macaquinhos.
Acho que esse nome foi invenção de minha mãe. Devia ser mais um carinho para com seus pequenos nos finais de tardes. Também vou tentar saber se essa 'delícia' era mesmo chamada assim.

Ingredientes:
- Alguns ovos
- Maizena
- Leite
- Açúcar
- Óleo para fritar

Modo de Fazer:
Misturar os ingredientes, formando uma massa mole, quase líquida. Numa frigideira com óleo quente, ir colocando uma colher da massa de cada vez. Por causa da amido de milho, ela vai ficar meio enrolada nas pontas, parecendo mesmo uma 'orelha'. Deixar mais ou menos um minuto e virar. Retirar com uma escumadeira e colocar em papel absorvente. Caso queira, salpicar canela em pó.

Nota: Apesar de ser fritura, nenhum de seus filhos ficou obeso, nem mesmo 'fofinho'.

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