Recordações de Um País Distante - I
"Mamãe, Betty
Havia um concurso para professor de Francês no Instituto Francês de Teerã. Em alguns países, principalmente da América do Sul, há a Aliança Francesa que, como o nome diz, é uma aliança entre um determinado país e a França, para o ensino da língua francesa. Já o Intituto Francês é ligado diretamente ao governo francês. Pelo menos era assim. Até o pagamento era em franco francês. Havia uma vaga e quatro candidatos: dois iranianos – uma moça e um rapaz - ambos com doutorado feito nos Estados Unidos, uma francesa casada com um iraniano (não me lembro qual era sua formação acadêmica) e esta brasileira aqui. Tínhamos que fazer um estágio no próprio Instituto e passar por provas práticas. Uma de regência de classe, em diferentes turmas de vários níveis e outra de ensino da língua francesa em laboratórios de línguas - no laboratório da escola. Recebi dois certificados e a vaga. Acho que ter sido aluna da professora Moirand² contou pontos. Sophie Moirand foi também a orientadora de meu trabalho de Dissertação de Mestrado.
Postal: Casa de Chá em Esfahan |
Verso do postal O postal endereçado à minha mãe e à minha irmã Betty: |
Estamos por alguns dias em Esfarran, antiga capital do Irã. É uma das cidades mais bonitas que já vimos. Aqui podemos apreciar objetos feitos há mais de mil anos! Vimos até o Templo de Zoroastro, ampliado através dos séculos pelas dinastias posteriores.
Este postal mostra uma Casa de Chá decorada segundo a moda tradicional do Irã."
Eu em Esfahan - Irã, em uma Casa de Chá, nossos 'cafés' daqui.
Estou segurando um caramelo para adoçar o delicioso chá preto com jasmim.
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Receita para uma bela crise do nervo ciático:
- Sair do Rio em pleno verão - mais ou menos 40 graus – pousar em Paris, em um inverno de zero grau e ir mais além: Teerã, no meio da neve, numa temperatura que às vezes chega aos 10 graus negativos e a neve pode ultrapassar um metro de altura.
- Ter hábitos ocidentais (sentar em poltronas, fazer as refeições em volta de uma mesa, em confortáveis cadeiras, dormir em camas...) e, de repente, acordar no oriente médio, onde as famílias tradicionais se sentam sobre tapetes - persas, claro! - mais ou menos na posição de yoga, deitam em macios e amplos 'colchonetes' feitos com flocos de pura lã e cobertos com delicados tecidos de algodão ou seda, mas... no chão, ou melhor, por cima dos famosos tapetes.
- Hábitos ocidentais x hábitos orientais, calor e frio. Resultado: crise ciática, dessas de 'entrevar' qualquer bom ocidental.
A Viagem
Conto uma parte dessa história: Tinha uma entrevista com um professor da Sorbonne para uma possível vaga em um curso de Linguística. Fui selecionada. Fiz Linguística Aplicada para o Ensino de Línguas Estrangeiras. Minha tese era relacionada à mídia. O ensino de uma segunda língua através de textos atuais, do dia a dia. Frequentei a Faculdade de Jornalismo para melhor elaborar meu raciocínio nesse sentido. Três anos depois e com 'meu diploma' nas mãos, resolvi, antes de voltar ao Brasil, conhecer uma parte de nosso planeta que sempre me atraiu: o oriente.
O Irã possui uma das arquiteturas mais lindas e antigas do mundo |
Em uma das duas torres que balançava quando se mexia na outra, um segredo nunca desvendado |
Folha de rosto e um artigo de S. Moirand |
Vocês devem estar perguntando: por que se recordar de um país tão lindo, com uma arquitetura digna dos contos das mil e uma noites, com uma história assim? Porque, depois de anos e anos com o 'ciático' em dia, tive estes dias uma crise terrível. Acho que para me lembrar daquela primeira. Com um agravante: trinta anos a mais 'nas costas'.
Saindo do ciático... Viajei pelo interior do Irã: Shiraz, Esfahan, Persépolis, Mar Cáspio ... Há construções milenares que deixam arquitetos e engenheiros europeus boquiabertos pelo esplendor, ousadia e mistério. Como duas Torres em Esfahan que, balançando-se uma, a outra também balança, apesar de, aparentemente, nada as ligarem. Ou a vela que permaneceu acesa por mais de mil anos, até que engenheiros ingleses, na tentativa de descobrirem seu segredo, a apagaram. Ou, ou... Ficaria aqui, páginas e páginas, recordando as belezas, as tradições e os encantos desse país milenar. Um país milenar, de um povo sofrido e lutador, que não deixa suas tradições e sua cultura serem levadas pelos ralos de países do novo mundo.
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