De acordo
com a ODCNN*, o planeta Terra é dividido em quadrados, formando um grande
quadrado que gira em torno de si mesmo. Essa descoberta chocante é vista no
mundo científico como algo só comparável à chegada do homem à Lua em 1969. Esse
fenômeno parte do princípio de que há na terra partículas compostas de H2O que
se agrupam, formando quadrados distintos ao redor do planeta. Na verdade, a
água ocupa dois terços dos corpos desses minúsculos seres.
Existem
milhares de grandes grupos, subdivididos em pequenos grupos, totalizando mais
de sete bilhões dessas partículas de H2O. Ainda de acordo com a ODCNN, não se
sabe se esses lagos ambulantes têm características predominantes racionais ou
irracionais. Elas se classificam de acordo com os agrupamentos a que pertencem.
São imprevisíveis, com um DNA cujo núcleo principal é igual em todos eles,
porém com ramificações diversificadas. Reproduzem-se facilmente e em grande
escala. Isto faz com que seus espaços físicos fiquem diminutos em relação à
quantidade de indivíduos. A consequência é uma busca constante por quadrados
maiores, gerando intolerâncias radicais entre si e fomentando atritos
desastrados e destruidores. Esses atritos têm sequelas que atingem milhões dessas
partículas. A maior e mais grave dessas consequências é a destruição do meio
ambiente onde vivem. Desse modo, após absorverem tudo de seu habitat, fazem
migrar outras partículas a outros quadrados, à procura de mais recursos que
possam satisfazer suas exigências cada vez maiores.
Diante
desse quadro, facilmente formam outros agrupamentos, não se mesclando e
tornando mais difícil uma aproximação pacífica e sem interesses próprios entre
eles.
Um Paradoxo
Um paradoxo que está deixando a comunidade
científica atônita é que quanto mais poderosos se tornam, mais enfraquecidos
ficam. É esse o dilema atual. Fortes e
poderosos, mas com uma discutível visão de sobrevivência, ficam sem saída. Pela
busca cada vez mais exigente de elementos físicos e químicos que satisfaçam seu
crescente e desgovernado modo de vida, ou destroem a si próprios, destruindo
assim todos os outros grupos, ou voltam a viver de um modo mais tranquilo, com
menos atritos, sem usarem e abusarem da oxigenação ainda restante. Essa última
alternativa não é atrativa para a maioria deles, pois preferem não pensar no
fim de seu próprio habitat. Fazem como na lenda da avestruz, escondendo a
cabeça. Assim, continuam suas vidas que, aos seus olhos, são glamorosas,
práticas e mais fáceis. Caminhando com a cabeça escondida, não veem o perigo
sempre mais próximo. Um perigo real que ameaça todos os quadrados desse planeta
de aparência redondo, mas que, na verdade, é bem mais quadrado que redondo.
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*ODCNN = Ordem
Das Coisas Não Naturais, sigla criada por mim para este miniconto.
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