Tendo trabalhado no Instituto Francês de Teerã, morei no Irã no final da década de 70 e início dos
anos 80. Isto quer dizer que estava lá exatamente durante o iniciar e o
fervilhar da revolução iraniana. Vi a saída, ou melhor, a fuga do Xá Reza
Pahlevi e a chegada triunfal do Ayatollah Khomeini. Fui a única brasileira
residente em
Teerã durante essa guerra civil. Não sei se a única residente em todo o Irã, mas em sua capital, Teerã, sim.
Teerã durante essa guerra civil. Não sei se a única residente em todo o Irã, mas em sua capital, Teerã, sim.
Não, não quero falar nem me lembrar de guerras, de
mortes, de tristezas! Hoje quero me recordar de coisas boas, que afastam guerras
e trazem Paz.
Quando cheguei ao Irã não sabia falar uma só
palavra em farsi, a língua oficial daquele país. A ‘linguagem universal’ – a mímica – me socorria
nas situações mais difíceis. Felizmente muitas pessoas sabiam falar inglês ou
francês. O Irã possui várias línguas, sendo o farsi o
idioma oficial. Não disse dialetos, disse línguas. No Brasil, por exemplo, há
uma unificação em relação ao idioma. A língua portuguesa, com seus vários
dialetos, (sim, dialetos) é única em todo nosso território.
Pili
Apesar da dificuldade de comunicação inicial, a
‘brasili’ – a ‘brasileira’ – era tratada como uma princesa saída do reino de
“Pili”. Um reino de um país ensolarado chamado Brasil. Aonde chegava só ouvia
“Pili”. Era Pili prá cá, Pili prá lá...
No início sorria de volta, sem
saber bem o que queriam dizer com “Pili”. Às vezes repetia sorrindo: “Pili,
Pili!!!” Mas logo descobri: “Pili” era o amado e idolatrado Pelé. Sabia que
nosso rei era conhecido internacionalmente, mas nunca imaginei que fosse tão
popular entre os povos da Ásia, principalmente os do Oriente Médio. Alguns
sorridentes iranianos acompanhavam o “Pili” com algumas sílabas impronunciáveis
que descobri depois ser “Garrincha”. Era nosso futebol levando nas bolas
chutadas com maestria o nome de nosso país. Um incrível futebol diplomático. Um
futebol que abria portas e ultrapassava fronteiras, unificando esse mundão e
retirando ‘as torres de babel’ por onde o brilho das bolas passava. Sim, um
futebol diplomático, nota mil, como eram as boladas de Pelé.
Que nasçam e vivam mais Garrinchas e Pelés, dando
um exemplo de Paz através do esporte. Através do pipocar e do estourar... de
bolas.
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Nota: Esta postagem é uma reedição de um post que escrevi em março de 2009, para este blog, com o título "Recordações de um País Distante II".
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