"Oh! que saudades que tenho",
dos bons tempos de estudante na França,
no doce sabor da reine-claude. Assim não dá. Parodiar Casimiro de Abreu¹, com saudades da França? Se ao menos estivesse me referindo à Canção do Exílio.
Explico: Por todo o mundo há mais ou menos 150 espécies de ameixa.² Não tenho os dados precisos, mas é por aí. Na Europa existe uma grande quantidade delas, variando em cor e sabor, dependendo da região. Uma das mais conhecidas e saborosas é a reine-claude. Sabe aquela fruta que você come uma, duas... e sempre pede bis? Tipo fruta-do-conde, manga-coquinho, morango, amora - estou citando as que amo, claro.
Em Paris pode-se encontrar a reine-claude em quase todos os lugares, dos supermercados às feiras livres. Foi em uma dessas feiras que a conheci. Compramos muitas. Quando a experimentei... Ah! Como é de-li-ci-o-sa! Comecei a degustá-las e só parei porque me contaram uma 'historinha': a de um brasileiro que, ao saborear uma dessas ameixas, não conseguiu mais parar... E sabem onde ele foi 'parar', não é? Mas não estou aqui para falar da reine-claude e sim de nossa ameixa brasileira.
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Amo plantar - acho que já deu para notar, não é? Plantei em meu quintal tudo que ia encontrando pela frente. De sementes a mudas. Uma dessas mudas era de um pé de ameixa. Depois de cinco ou seis anos, para minha alegria, ele floriu. E com vontade. Em novembro do ano passado apareceram as flores, em março deste ano os frutos maduros. Vamos acompanhar seu 'frutificar'?
Hoje, ele, meu pé de ameixa, está assim. Tirei essa foto sábado passado.
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As flores brancas começaram a pipocar aqui e ali...
De dentro das flores surgiram os primeiros frutinhos, ainda 'nenenzinhos'...
Em cachos...
E mais cachos...
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Novembro de 2008: Apareceram os primeiros botões. |
As flores brancas começaram a pipocar aqui e ali...
De dentro das flores surgiram os primeiros frutinhos, ainda 'nenenzinhos'...
Em cachos...
E mais cachos...
Até que a ameixeira ficou toda carregada de pequenas frutas alongadas.
Agora conto uma outra 'historinha': Temos uma cadela pastor alemão. Ela gosta de ficar passeando no jardim e no pomar. Ama todo tipo de fruta, porém só come as que lhe damos. Mas parece que ela também não resistiu ao sabor das ameixas que caíam. Exagerou e... Na próxima colheita de ameixa vamos fechar o pomar. Conclusão das 'historinhas': Em qualquer país, seja a ameixa desse ou daquele sabor e cor, o princípio ativo dessa frutinha é o mesmo: laxativo. Portanto, coma com moderação.
Colhemos tantas ameixas que ficamos sem saber o que fazer. Para se comer in natura, não é assim 'uma Brastemp', quer dizer, uma reine-claude, mas dá 'prá levar'. Tentamos fazer algum tipo de conserva, mas fracassei na primeira tentativa. Queria fazer uma compota. Cozinhei as ameixas com os caroços - cada uma tem de um a três; ficou ahrrr... Tive que jogar fora.
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Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
Agora conto uma outra 'historinha': Temos uma cadela pastor alemão. Ela gosta de ficar passeando no jardim e no pomar. Ama todo tipo de fruta, porém só come as que lhe damos. Mas parece que ela também não resistiu ao sabor das ameixas que caíam. Exagerou e... Na próxima colheita de ameixa vamos fechar o pomar. Conclusão das 'historinhas': Em qualquer país, seja a ameixa desse ou daquele sabor e cor, o princípio ativo dessa frutinha é o mesmo: laxativo. Portanto, coma com moderação.
Colhemos tantas ameixas que ficamos sem saber o que fazer. Para se comer in natura, não é assim 'uma Brastemp', quer dizer, uma reine-claude, mas dá 'prá levar'. Tentamos fazer algum tipo de conserva, mas fracassei na primeira tentativa. Queria fazer uma compota. Cozinhei as ameixas com os caroços - cada uma tem de um a três; ficou ahrrr... Tive que jogar fora.
Não desisti: com paciência e ajuda, retirei os caroços. Fiz uma calda com o açúcar equivalente à metade da polpa e deixei cozinhando em fogo bem baixo, quase apagando, por mais ou menos duas horas. Consegui. Todos que provaram aprovaram. Na próxima colheita vou fazer mais algumas tentativas.
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Ameixa - Ameixeira (Prunus domestica). Pertence á família das rosáceas, a mesma família botânica da cerejeira, do pessegueiro e da amora. Existem muitas variedades, por isto variam no tamanho, na cor, no sabor e no tempo da colheita.
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A língua persa, rica em diferenciações, possui duas palavras para ameixa: Álu - ameixas alongadas, como as mostradas nas fotos e Alutheh - ameixas redondas, como aquela roxinha que compramos nos supermercados ou mesmo como a meio amarelo-esverdeada reine-claude.
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A ameixa é rica do ponto de vista nutricional, possuindo vitaminas C, A e do complexo B, que ajudam a evitar o reumatismo e problemas de pele. Contém também cálcio, fósforo e ferro. Por ser laxativa - possui um número muito grande de fibras - combate a prisão de ventre.
De acordo com o livro Plantas Medicinais,³ "é adstringente e emoliente", "das folhas se faz um bom xarope contra tosse" e "a casca da raiz é usada contra diabete".
Já no livro Guia Completo de Nutrição,4 podemos ler: "A fruta é cheia de um tipo particular de fibra, a pectina, que ajuda a baixar os níveis do mau colesterol, o LDL. Outros componentes da ameixa, as mucilagens, ajudam os pulmões a expelir o catarro. Dessa forma, há uma diminuição do reflexo da tosse, já que ela nada mais é do que uma tentativa de varrer as secreções do aparelho respiratório."
A ameixa seca possui, além de ferro, zinco e potássio. O potássio regulariza a pressão sanguínea e combate doenças dos ossos.
A ameixa fresca contém apenas 47 calorias em cada 100 gramas.
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¹Meus Oito Anos, de Casimiro de Abreu. Quem não se lembra desse poema? Ele nos acompanha desde a escola fundamental, não é? Para matar a saudade, vamos transcrevê-lo abaixo. Transcrevo também, deste poeta do Romantismo Brasileiro, seu não menos famoso poema Canção do Exílio.
²Infelizmente não podemos fazer 'un tour' ao mundo através dos sabores dessa pequena fruta. Podemos, sim, acompanhá-la através de seu nome: Em francês ameixa é prune e pruneau (ameixa seca); em espanhol é ciruela; em italiano é prugna; em persa é álu e alutheh; em inglês é plum e plune (ameixa seca); em norueguês é plomme; em chinês... Não consigo pronunciar. Você sabe? E em japonês, árabe, coreano... Conte pra gente.
³Plantas Medicinais - 9.420 Receitas Botânicas, Irmão Cirilo, Korbes: Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural, 1995, 46ª edição, p.68.
4Guia Completo de Nutrição - Saude é Vital, Edição de texto de Álvaro Leme, Editora Abril, São Paulo, 2ª ed., 2005, p. 98.
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MEUS OITO ANOS
Casimiro de Abreu
"Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d'amor!
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d'amor!
Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minhã irmã!
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minhã irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
— Pés descalços, braços nus
— Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
— Pés descalços, braços nus
— Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
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Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
................................
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
— Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!"
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!"
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Canção do Exílio
Casimiro de Abreu
......
Se eu tenho de morrer na flor dos anos
Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!
Meu Deus, eu sinto e tu bem vês que eu morro
Respirando este ar;
Faz que eu viva, Senhor! dá-me de novo
Os gozos do meu lar!..
Canção do Exílio
Casimiro de Abreu
......
Se eu tenho de morrer na flor dos anos
Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!
Meu Deus, eu sinto e tu bem vês que eu morro
Respirando este ar;
Faz que eu viva, Senhor! dá-me de novo
Os gozos do meu lar!..
O país estrangeiro mais belezas Do que a pátria não tem; E este mundo não vale um só dos beijos Tão doces duma mãe!
....... Dá-me os sítios gentis onde eu brincava Lá na quadra infantil; Dá que eu veja uma vez o céu da pátria, O céu do meu Brasil!... Se eu tenho de morrer na flor dos anos Meu Deus! não seja já! Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, Cantar o sabiá!.... Quero ver esse céu da minha terra Tão lindo e tão azul! E a nuvem cor-de-rosa que passava Correndo lá do sul!.... Quero dormir à sombra dos coqueiros, As folhas por dossel; E ver se apanho a borboleta branca, Que voa no vergel!.... Quero sentar-me à beira do riacho Das tardes ao cair, E sozinho cismando no crepúsculo Os sonhos do porvir! ..... Se eu tenho de morrer na flor dos anos, Meu Deus! não seja já; Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, A voz do sabiá! .... Quero morrer cercado dos perfumes Dum clima tropical, E sentir, expirando, as harmonias Do meu berço natal!..... Minha campa será entre as mangueiras, Banhada do luar, E eu contente dormirei tranqüilo À sombra do meu lar! As cachoeiras chorarão sentidas Porque cedo morri, E eu sonho no sepulcro os meus amores Na terra onde nasci!
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Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!
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Toda e qualquer complementação a este post será muito bem vinda. Não sou especialista em botânica; apenas amo ver, fotografar e mostrar as belezas produzidas pela natureza. A beleza das diferenças, a beleza da germinação de uma semente, a beleza da floração de uma planta, a beleza de seu nascimento e de seu crescimento.
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Por que juntar planta e poesia? Porque poesia é a semente da sensibilidade. É a manifestação da mais pura emoção. É a representação dos sentimentos. É a explosão do amor. Amor que explode em palavras, assim como uma planta explode em flores..
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